Prevenir algo de acontecer significa, em linhas bem gerais, se antever a problemas antes que aconteçam, antes dos primeiros sintomas. Quais sintomas? Bem, se a cada dez clientes que batem à sua porta, sete já estão negativados, temos um sintoma — e talvez o problema não esteja só neles, mas sim na forma como você se antecipa a isso. Você certamente precisará adotar as chamadas estratégias de cobrança preventiva.
Segundo os principais birôs de crédito, o Brasil já soma mais de 70 milhões de inadimplentes. Em um país com cerca de 110 milhões de pessoas economicamente ativas, este não é mais um ponto fora da curva. A inadimplência é o novo normal.
Nas empresas, a situação também preocupa: pedidos de recuperação judicial não param de crescer, evidenciando um mercado frágil e vulnerável. Nesse contexto, é urgente entender que a cobrança precisa ir além de apagar incêndios. Afinal, cobrança não começa com o atraso. Começa com a prevenção. É aqui que entramos com a cobrança preventiva.
A cobrança preventiva deve ser encarada como uma estratégia de cuidado com o cliente, e não como um mero protocolo burocrático. Quem se antecipa, com inteligência e constância, transforma risco em resultado.
E não se engane: raramente o devedor está devendo só a você. Ele tem boletos com bancos, cartões, lojas, a grande maioria em atraso. Nessa história, quem age primeiro, com empatia e estratégia, ganha prioridade.
Aqui, na Tabelando com Tambellini, acreditamos que o mercado só avança quando evolui sua mentalidade. E isso começa por entender a cobrança preventiva como parte essencial da saúde financeira.
O que é cobrança preventiva?
A cobrança preventiva é uma abordagem proativa que antecipa os riscos de inadimplência antes que eles se tornem um problema. Em outras palavras: em vez de esperar o vencimento e agir para mitigar danos, a empresa atua de forma estratégica, orientando e lembrando o cliente para que ele mantenha seus pagamentos em dia.
Estudos feitos por instituições americanas demonstram que atuar de maneira preventiva diante da inadimplência eleva significativamente as chances de pagamento e reduz os desgastes da cobrança reativa. Já no Brasil, pesquisas apontam que empresas que adotam esse modelo registram aumentos de até 22% na liquidação no vencimento.
Trazendo para uma definição mais próxima do nosso dia a dia, a cobrança preventiva funciona como o lembrete da clínica antes da sua consulta. Não é cobrança, é cuidado. Afinal, ninguém se ofende por receber um aviso gentil, especialmente se isso ajuda a evitar multas, juros e desconfortos futuros.
Diante dessa informação, você poderá ouvir: “Ah, mas meu cliente se incomodou com o lembrete antes do vencimento”. Carto, mas e os outros muitos (a maioria) que agradeceram por não se esquecer e ajudar a lembrar? A importante lição que tiramos desse exemplo é: a exceção não pode ditar a regra. Cobrança preventiva bem feita é respeitosa, segmentada e alinhada ao perfil do público.
Mas como fazer esse tipo de cobrança? De maneira geral, uma cobrança preventiva eficaz pode (e deve) ser feita por WhatsApp, SMS, e-mail ou ligações consultivas. A chave para essa questão está, na verdade, em entender quem é o cliente e como ele prefere ser abordado.
Cobrança reativa X cobrança preventiva: o que dizem os números
Tanto a cobrança preventiva quanto a reativa têm seu papel na estratégia de recuperação de crédito. Mas ao comparar os dois modelos, o contraste é evidente. Confira na tabela a seguir:
Critério | Cobrança preventiva | Cobrança reativa |
Custo operacional | Baixo (automação e canais digitais) | Alto (tempo, equipe e custos variáveis) |
Taxa de recuperação | Alta, especialmente até 30 dias antes do venc. | Reduzida, especialmente após 90 dias |
Impacto no relacionamento | Positivo (abordagem consultiva e antecipada) | Negativo (conflitos, desgaste, estresse) |
Tempo de resolução | Curto (resposta ágil do cliente) | Longo (negociação, renegociação, protesto) |
Imagem da empresa | Cuidadosa e proativa | Rigorosa e, às vezes, impositiva |
Flexibilidade de oferta | Maior (possibilidade de incentivos e descontos) | Limitada (dívida já gerou encargos) |
Ao analisarmos as informações da tabela, podemos concluir que quem cobra primeiro, cobra melhor. Isso porque, no jogo da inadimplência, a velocidade com que você age pode ser a diferença entre recuperação e prejuízo.
Agora que já temos bem desenhados os conceitos e principais aspectos que destacam a cobrança preventiva no contexto de uma boa estratégia de cobrança, vamos entender quais são os pilares da cobrança preventiva. Fique com a gente e acompanhe!
Os 5 pilares da cobrança preventiva
Colocar a cobrança preventiva em prática exige muito mais do que boa vontade: exige método, inteligência de dados e estrutura. Os cinco pilares da cobrança preventiva, validados por pesquisas internacionais e experiências do mercado brasileiro, formam a base de uma operação sólida, eficiente e bem posicionada diante da inadimplência.
Pilar 1: Comunicação proativa e estratégica
Enviar um lembrete ao cliente antes do vencimento do pagamento parece simples, e é. Mas quando feito no timing certo e com o tom adequado, os resultados desse tipo de ação podem ser exponenciais.
Estudos do mercado americano chamam isso de “golden window”, ou seja, a “janela dourada”, o momento ideal para agir antes que a dívida envelheça. Empresas que acionam os clientes até cinco dias antes do vencimento registram taxas de pagamento até 22% superiores em comparação às que esperam o atraso se confirmar.
Quer um exemplo? Segundo a Harvard Business Review, o Bancolombia adotou uma estratégia de lembretes com IA via canais digitais e atingiu um índice de satisfação de 4,7 (de um total de 5) em ações de cobrança, mudando a percepção do cliente sobre o processo.
Mas qual o tom certo para utilizar nessa estratégia? Use sempre o tom consultivo e objetivo. Abaixo, alguns exemplos de mensagens com esse tipo de tom:
- WhatsApp: “Olá, João! Sua fatura de R$ 452,90 vence em 2 dias. Qualquer dúvida, estamos por aqui.
- SMS: “Evite juros: sua fatura vence amanhã. Acesse aqui: [link].”
- E-mail: “Seu compromisso está chegando. Clique aqui para visualizar e manter seu bom histórico conosco.
Pilar 2: Segmentação inteligente e análise preditiva
Não faz sentido cobrar do mesmo jeito quem atrasou um boleto, mas (quase) sempre paga em dia e quem sempre atrasa. Nesse sentido, segmentar sua base com critérios claros reduz atrito e aumenta eficiência de todo o processo.
Alguns critérios que recomendamos para uma segmentação inteligente:
- Score de crédito
- Tempo médio de atraso
- Valor da dívida
- Histórico de negociação anterior
- Canal preferido de comunicação
Em um estudo relevante para este tema, o Federal Reserve Bank of New York apontou que clientes com score acima de 700 têm, em média, menos de uma conta em cobrança, enquanto os de score baixo acumulam até 4 contas negativadas.
Outro case bastante ilustrativo é o de uma empresa que identificou, via IA, que parte dos clientes atrasava, mas pagava mesmo sem ser acionada. Como ação estratégica baseada nessas informações (muito valiosas, diga-se de passagem), cortaram o custo de cobrança desse grupo e focaram nos perfis que realmente precisavam de intervenção.
Pilar 3: Personalização da abordagem
Aqui, o diferencial está no detalhe. Personalizar não é só chamar o cliente pelo nome: é, também, adaptar canal, linguagem, condições e momento da abordagem com base em comportamento.
Segundo a HBR, 58% das empresas que usam IA em cobrança o fazem de maneira a personalizar suas ofertas de acordo com base no perfil de pagamento. Na prática:
- Clientes recorrentes podem receber condições de antecipação com desconto.
- Clientes inadimplentes crônicos podem ter abordagens mais objetivas e automáticas.
- Clientes com relação estável merecem **tratamento consultivo com foco em retenção.
Pilar 4: Automação e tecnologia omnichannel
Omnicanalidade não é somente usar vários canais e pronto; é preciso atuar para integrá-los em uma estratégia de mão única. Nesses termos, a jornada do cliente deve ser fluida, independente de onde ela começa.
Aliás, por se tratar de um tema muito recorrente nas discussões, cabe aqui desenvolvermos um pouco mais sobre a diferença entre omnicanalidade e a multicanalidade:
- Multicanalidade: enviar a mesma mensagem por SMS, WhatsApp e e-mail, sem integração.
- Omnicanalidade: cliente começa no WhatsApp, continua no e-mail e finaliza no portal, com acompanhamento em tempo real.
Para funcionar bem, uma estratégia de omnicanalidade deve lançar mão de algumas ferramentas essenciais, como um CRM com histórico centralizado, automação com gatilhos (ex: boleto não visualizado → novo lembrete após 48h) e integração com ERP e gateways de pagamento.
Pilar 5: Inteligência artificial e big data
O uso de IA na cobrança não é algo para o futuro. É o presente se desenrolando bem na nossa frente! Com o montante de dados sobre o comportamento e o perfil dos clientes que a empresa já possui, é possível utilizar modelos de IA para diversas tarefas estratégicas, como:
- Criar modelos de propensão à inadimplência
- Gerar scorings comportamentais personalizados
- Sugerir melhor canal, melhor hora e melhor oferta para cada cliente
É possível também inserir parâmetros para melhorar ou personalizar os resultados das análises e do processamento dos modelos. Você pode, por exemplo, “orientar” a IA de que clientes com score baixo e sem histórico de negociação devem receber abordagem automática com oferta de quitação, enquanto clientes com bom histórico e atraso pontual devem receber abordagem consultiva com proposta personalizada.
Benefícios da cobrança preventiva
Depois de entender os pilares e os fundamentos da cobrança preventiva, vale agora olhar para o parâmetro que realmente importa na prática: os resultados. Cobrar antes do problema acontecer não é só uma jogada inteligente, e sim uma decisão estratégica com reflexos diretos na saúde financeira e na longevidade do negócio.
Até aqui, tudo bem. Mas, afinal, quais são esses benefícios e resultados que podemos esperar a partir de ações de cobrança preventiva? Siga com a gente!
Redução da inadimplência
A cobrança preventiva pode aumentar em até 22% a taxa de liquidação até a data de vencimento. Isso significa menos atrasos, menos custos com recuperação e mais previsibilidade.
Fluxo de caixa saudável
Com pagamentos mais regulares e menos inadimplência crônica, o planejamento financeiro da empresa se torna mais confiável, algo essencial em tempos de juros altos e margens apertadas.
Economia operacional com automações
Estudos citados pelo Harvard Business Review mostram que empresas que usam automação e IA em cobrança preventiva reduzem o tempo de atendimento em até 10% e melhoram a recuperação em 6%, com menor uso de equipe humana.
Melhora do relacionamento e fidelização
Cobrança feita no tom certo e no momento certo preserva a relação com o cliente. Isso se traduz em aumento do LTV (Lifetime Value) e menor churn. Dessa maneira, os clientes sentem-se cuidados, não cobrados.
Menor desgaste jurídico e reputacional
Evitar a cobrança reativa reduz a chance de negativação, protestos e judicialização. Isso significa menos atrito, menos reclamação e uma imagem mais saudável no mercado.
Mais inteligência sobre o comportamento do cliente
Ao prevenir a inadimplência, sua empresa coleta dados em tempo real sobre quem responde, quem ignora e quem antecipa pagamentos. Isso vira insumo valioso para ajustar ofertas, canais e mensagens.
Escalabilidade
Com processos automatizados, segmentação preditiva e comunicação estruturada, sua operação de cobrança pode crescer sem aumentar proporcionalmente os custos com equipe ou estrutura.
Como implementar a cobrança preventiva na prática
Muito mais do que teoria, a cobrança preventiva é pura execução, e começa com um movimento simples: entender que cobrar antes de o problema acontecer não afasta o cliente; pelo contrário, aproxima. A seguir, um guia prático para começar, mesmo sem grandes tecnologias ou times robustos.
1 – Alinhe o entendimento estratégico
Antes de empregar o uso de qualquer ferramenta, é necessário mudar a mentalidade e estabelecer a cultura de que a cobrança preventiva melhora o relacionamento com o cliente e aumenta a recuperação ao longo do tempo. Não se trata de vigiar o cliente, e sim de acompanhar com responsabilidade.
2 – Faça o mapeamento da base
Use os dados disponíveis no seu CRM e desenvolva um mapa analítico de toda a base de clientes. Se não tiver um CRM estabelecido, comece com uma planilha bem organizada. Os dados mais relevantes incluem:
- Perfil sociodemográfico
- Histórico de compras
- Frequência e ticket médio
- Dados de atraso e comportamento de pagamento
- Canais preferidos de contato
Quanto mais rica for sua base, mais eficaz será a segmentação.
3 – Segmente e crie regras específicas
Com a base de clientes mapeada, é hora de segmentar por comportamento e risco. A partir disso, crie regras de prevenção específicas para cada grupo. Exemplo:
- Clientes novos → lembrete 3 dias antes do vencimento
- Clientes com histórico de atraso → lembrete + incentivo
- Clientes antigos com bom histórico → abordagem consultiva
4 – Comece simples (e manual, se necessário)
Muita gente, ao ensinar processos automatizados, nos faz ter a sensação de que precisamos de uma operação 100% rodando com IA logo no início. Está errado! Você não precisa ter uma operação robótica no dia 1. Faça testes e operações inaugurais com:
- Envio manual de mensagens por WhatsApp
- E-mails segmentados com base no perfil
- Acompanhamento em planilhas
O importante aqui é validar hipóteses, medir retorno e ajustar. Comprovou que funciona? Aí, sim, vale começar a automatizar.
5 – Tenha uma base limpa e bem classificada
Uma cobrança preventiva mal direcionada pode ser tão ineficaz quanto a tradicional, feita de maneira reativa. Para deixar a base limpa, classificada e formatada da maneira correta, é preciso verificar:
- Dados de contato atualizados de cada cliente
- Classificação clara de perfis
- Canais de comunicação ativos
6 – Teste antes de escalar
Tudo pronto? Ou quase? Neste momento, é imprescindível testar a base antes de consolidar a estratégia, evitando, assim, aplicar a estratégia para 100% dos contatos de uma só vez. Escolha uma amostra representativa, implemente a régua de prevenção e analise os resultados de maneira analítica e bem detalhada.
7 – Fuja da comunicação genérica (o erro mais comum)
Aplicar o mesmo texto, o mesmo tom e utilizar o mesmo canal para todos os clientes é um caminho rápido para os resultados ruins. A comunicação para a cobrança preventiva deve ser inteligente, segmentada e orientada ao perfil. Ou seja: vale investir tempo pensando e planejando esse tipo de aspecto.
8 – Você ainda não começou?
Se você ainda não começou a implementar uma estratégia de cobrança preventiva, sua empresa está só apagando incêndios. Trata-se de um investimento em previsibilidade, relacionamento e resultado. É impossível ignorar!
Conclusão
A cobrança preventiva deixou de ser tendência para se tornar necessidade. Em um cenário de inadimplência crônica e consumidores cada vez mais exigentes, quem age antes sai na frente.
Mais do que se mostrar uma técnica eficiente, a cobrança preventiva é uma mentalidade que deve ser adotada por toda a empresa. É uma forma de proteger sua operação, preservar o relacionamento e construir um modelo financeiro mais previsível e saudável.
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