A prescrição extrajudicial de dívidas e o impacto para as securitizadoras

Você já deve ter ouvido que uma dívida prescreve após cinco anos, certo? Essa regra sempre foi aplicada ao meio judicial, impedindo credores de acionarem a Justiça para cobrar débitos antigos. No entanto, uma nova interpretação pode mudar tudo: o Superior Tribunal de Justiça (STJ) está analisando se essa prescrição também deve valer para cobranças extrajudiciais, ou seja, aquelas feitas fora dos tribunais.

Se essa mudança for consolidada, o impacto será profundo, especialmente para as securitizadoras, que compram carteiras de crédito vencidas e atuam na recuperação desses valores. 

Empresas que adquiriram dívidas baseadas nas regras atuais podem perder parte ou até mesmo todo o valor investido. Além disso, a incerteza jurídica pode afastar investidores e comprometer o futuro desse mercado.

O que está em jogo vai muito além das securitizadoras. Essa decisão pode afetar todo o ecossistema financeiro, tornando o crédito mais caro e dificultando a recuperação de dívidas. Neste artigo, vamos explorar como essa possível mudança ameaça as operações de cobrança e o que o setor pode fazer para se preparar para esse novo cenário.

Prescrição extrajudicial: uma mudança de cenário preocupante

A possibilidade de estender a prescrição para a cobrança extrajudicial está provocando incertezas no mercado financeiro. Até então, mesmo após cinco anos, credores ainda podiam negociar diretamente com os devedores, mantendo vivas as chances de recuperação do crédito. 

Se essa nova interpretação for consolidada, milhões de reais em dívidas vencidas podem simplesmente se tornar incobráveis, o que representaria uma transformação drástica no setor.

Para entender o impacto dessa mudança, é essencial olhar para o papel das securitizadoras. Essas empresas compram carteiras de crédito vencidas, assumindo o risco de inadimplência em troca da possibilidade de recuperar parte dos valores ao longo do tempo. O modelo de negócio funciona porque há segurança jurídica para continuar cobrando extrajudicialmente, algo que pode deixar de existir se a prescrição for estendida para além do âmbito judicial.

Esse cenário cria uma grande preocupação para quem investiu nesse mercado com base na legislação vigente. Empresas que adquiriram carteiras nos últimos anos podem ver seu patrimônio desvalorizado da noite para o dia, sem qualquer possibilidade de reversão. 

Além disso, a insegurança jurídica pode afastar investidores nacionais e internacionais, comprometendo o crescimento do setor e limitando novas oportunidades de negócio.

As consequências vão além do impacto direto nas securitizadoras. Se a recuperação de crédito se tornar inviável, credores primários, como bancos e financeiras, precisarão repensar suas estratégias. 

Isso pode resultar em um crédito mais caro e seletivo, prejudicando tanto consumidores quanto empresas que dependem de financiamentos para manter suas operações. O risco de inadimplência pode disparar, criando um efeito dominó que afeta toda a economia.

Securitizadoras e o risco de desvalorização das carteiras

Com a possibilidade de a prescrição extrajudicial ser reconhecida, as securitizadoras enfrentam um risco imediato: a perda de valor das carteiras adquiridas nos últimos anos. Essas empresas compraram dívidas vencidas confiando na segurança jurídica de que poderiam continuar negociando com os devedores fora do âmbito judicial. 

Se essa opção for proibida, muitas carteiras podem simplesmente se tornar irrecuperáveis, comprometendo bilhões de reais investidos no setor.

O modelo de negócios das securitizadoras depende da precificação correta dessas carteiras, levando em conta o tempo médio de recuperação e os riscos envolvidos. Se a prescrição extrajudicial for oficializada, toda essa dinâmica será afetada, pois a capacidade de negociação direta, um dos principais ativos dessas empresas, pode ser drasticamente reduzida. Sem essa possibilidade, os preços das carteiras despencam, tornando o setor menos atrativo para investidores.

Além do impacto financeiro, há uma preocupação com a segurança jurídica do mercado. Mudanças retroativas nas regras do jogo podem afastar grandes investidores, especialmente aqueles de fora do país, que buscam estabilidade antes de alocar capital em um setor de risco. 

O Brasil já enfrenta desafios para atrair investimentos, e a insegurança jurídica apenas reforça a percepção de que o ambiente de negócios pode mudar sem previsibilidade, gerando incertezas para o futuro.

Diante desse cenário, as securitizadoras estão em alerta, buscando alternativas para minimizar os danos. Algumas estratégias incluem a tentativa de manter as dívidas visíveis nos portais de negociação, permitindo que os devedores ainda possam regularizar seus débitos voluntariamente. 

No entanto, sem uma definição clara do STJ, todas as opções permanecem incertas, deixando o setor vulnerável a uma das maiores transformações já enfrentadas na cobrança de dívidas no Brasil.

Os principais desafios e estratégias para o futuro

Diante da incerteza jurídica que cerca a prescrição extrajudicial de dívidas, securitizadoras e demais agentes do mercado precisam repensar suas estratégias. Se a decisão do STJ for favorável à prescrição também no âmbito extrajudicial, será necessário reavaliar a forma como as carteiras de crédito vencidas são precificadas e negociadas. 

Essa mudança pode obrigar as empresas a desenvolverem novas abordagens para minimizar as perdas e manter a viabilidade do setor. Uma das alternativas discutidas é a possibilidade de manter as dívidas nos portais de autonegociação, permitindo que os próprios devedores busquem um acordo voluntário. 

Embora essa medida possa ajudar a mitigar os impactos, ela não substitui a abordagem ativa de cobrança, que sempre foi um dos pilares na recuperação de crédito. Se não houver uma regulamentação clara sobre essa prática, as empresas continuarão operando em um cenário de insegurança e limitação.

Outra questão relevante é o impacto dessa possível decisão sobre o comportamento dos consumidores. Se a prescrição extrajudicial for confirmada, muitos devedores podem optar por simplesmente esperar cinco anos para se livrar de seus compromissos financeiros, gerando um aumento na inadimplência. Isso cria um efeito cascata que afeta não apenas as securitizadoras, mas todo o sistema de crédito, tornando os empréstimos mais restritos e caros para toda a população.

Para acompanhar essa discussão mais de perto, confira o vídeo abaixo, que detalha os principais pontos em debate e as perspectivas para o futuro desse mercado. O momento é decisivo para o setor, e as próximas definições do STJ terão um papel fundamental na sustentabilidade do mercado de securitização e recuperação de crédito no Brasil.

Um mercado em alerta e à espera de definições

O debate sobre a prescrição extrajudicial de dívidas coloca as securitizadoras em um cenário de grande incerteza. Se a decisão do STJ restringir a cobrança amigável, o impacto será profundo, afetando não apenas as empresas que atuam na recuperação de crédito, mas também todo o ecossistema financeiro. 

A possibilidade de perder bilhões de reais em carteiras adquiridas sob regras anteriores gera insegurança jurídica e pode afastar investidores do mercado brasileiro.

Diante desse cenário, o setor acompanha de perto as movimentações jurídicas e busca alternativas para mitigar possíveis danos. Embora estratégias como portais de autonegociação sejam discutidas, ainda não há garantias de que serão viáveis no longo prazo. 

O que está em jogo não é apenas o modelo de cobrança, mas o futuro do crédito no país. As próximas decisões do STJ definirão o rumo desse mercado e terão reflexos diretos na economia e no acesso ao crédito para milhões de brasileiros.

Eduardo Tambellini
Eduardo Tambellini
Artigos: 26