Cobrança por WhatsApp: como fazer do jeito certo (sem ser bloqueado e aumentando sua recuperação)

Fazer cobrança por WhatsApp não se trata de apenas mandar um boleto, de maneira seca, esperando que o cliente simplesmente baixe e pague. Parece óbvio, mas é dessa forma que muitas empresas ainda operam. O resultado é que, quando o número é bloqueado ou o cliente ignora a mensagem, a culpa recai no canal, e não no método de abordagem.

Mas, calma: o WhatsApp funciona, sim, como ferramenta de cobrança. Ele só exige mais estratégia, empatia e atenção às regras da ferramenta. Usar esse canal como se fosse só mais um disparador de mensagens é desperdiçar todo o seu potencial, e ainda correr riscos desnecessários.

Não basta conhecer a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) ou o Código de Defesa do Consumidor: as políticas da própria plataforma também precisam ser respeitadas. Ignorar isso pode comprometer a reputação da empresa e travar toda a operação de cobrança.

Neste artigo, você vai aprender como usar o WhatsApp de forma profissional e eficiente, com uma régua de mensagens inteligente, respeito aos limites legais e uso da tecnologia para escalar com segurança.

Por que a cobrança por WhatsApp se tornou estratégica?

Ao longo dos anos assistimos ao WhatsApp se tornar o canal mais poderoso para cobrança no Brasil. Afinal, o app está instalado em 99% dos celulares do país, segundo a Monest, e 90% das mensagens que nele circulam são abertas pelos usuários — um índice imbatível quando comparado a canais como e-mail ou SMS.

A comparação com outros canais também corrobora essa dominância. Enquanto o e-mail registra taxa média de abertura de 21,3% e CTR entre 2% e 5%, o WhatsApp atinge até 98% de abertura e CTRs que variam de 15% a 80%, dependendo da segmentação.

Além disso, o WhatsApp é um app que oferece uma experiência mais leve e acessível para a maioria das pessoas. Um estudo da BankMyCell mostra que 75% dos millennials evitam ligações telefônicas por considerarem o canal estressante ou intrusivo.

Dentro de uma estratégia de comunicação multicanal, o WhatsApp muitas vezes assume o papel de principal porta de entrada. Embora muitas assessorias ainda percebam que a ligação telefônica resulta em uma taxa de conversão maior para o fechamento de acordos, o WhatsApp se destaca como o canal ideal para “despertar” o cliente, estabelecer o primeiro contato e, assim, iniciar um diálogo produtivo.

A Monest revelou algo muito interessante: a maioria dos acordos – 59%, para ser exato – são fechados me maneira ágil, em menos de dez minutos depois que você manda a primeira mensagem no WhatsApp. E se você usar inteligência artificial nesse canal, o retorno sobre o investimento (ROI) é ainda melhor, com uma média de 124% a mais do que os métodos tradicionais.

Por isso, mais do que um canal de disparo, o WhatsApp precisa ser tratado como um espaço de conversa. Ele aproxima, engaja e, se bem usado, acelera a conversão com menos atrito.

O que não te contaram sobre a cobrança por WhatsApp

A diferença entre mensagens de template e mensagens conversacionais

Para utilizar cobrança por WhatsApp com eficácia, o primeiro passo é entender que nem toda mensagem é igual. Assim, existem dois tipos bem distintos dentro da lógica da plataforma: as mensagens de template (ou HSM) e as mensagens conversacionais.

Os templates são mensagens estruturadas, obrigatoriamente pré-aprovadas pela Meta (proprietária do WhatsApp, e também do Facebook e do Instagram), usadas para iniciar o contato com o cliente — especialmente se ele não falou com sua empresa nas últimas 24 horas. São padronizadas, com campos variáveis para nome, valor e data, e exigem cuidado na redação.

Um exemplo de template seria: 

“Olá, [nome]. Notamos que sua fatura de R$ [valor], vencida em [data de vencimento], ainda está em aberto. Podemos enviar o link de pagamento?”

Essas mensagens são categorizadas (utilidade, marketing, autenticação) e a cobrança varia conforme o tipo. Só podem ser disparadas por quem utiliza a WhatsApp Business API, geralmente com apoio de plataformas homologadas.

Já as mensagens conversacionais são utilizadas após o cliente responder a esse primeiro contato. Elas não precisam de aprovação prévia da Meta e podem ter linguagem mais flexível, empática e adaptada à situação. É nesse momento que a negociação começa de verdade!

Por isso, a recomendação aqui é clara: use o template para abrir a conversa com respeito, clareza e contexto. E só depois disso engaje o cliente com mensagens personalizadas, criando uma relação de diálogo, sem que este se torne um monólogo de cobrança.

Ignorar essa diferença é um erro muito comum, e que pode custar caro. Mandar mensagens genéricas ou diretas demais como primeiro contato é a receita para ser ignorado, bloqueado ou até denunciado como spam. Evite!

Como iniciar uma cobrança sem cair no spam

O maior erro que as empresas cometem ao cobrar por WhatsApp é começar o contato como se estivessem ligando para um desconhecido e já dizendo logo de início: “Você está devendo”. Isso não só espanta o cliente, minando as possibilidades de uma negociação, como aumenta a chance de denúncia e bloqueio da conta.

A primeira mensagem enviada precisa explicar quem está falando, por que está entrando em contato e o que a pessoa pode esperar dali em diante. Isso vale tanto para contatos com pessoas físicas quanto com empresas. É como chegar numa conversa com educação e clareza.

Um exemplo ruim de começar uma cobrança por WhatsApp:

“Sua fatura está vencida! Evite negativação. Pague agora.”

E agora, que tal darmos uma olhada na forma correta de começar?

“Olá, João. Aqui é a equipe da [Empresa X]. Verificamos uma pendência em seu nome e gostaríamos de ajudar com uma proposta personalizada. Posso te enviar os detalhes?”

Esse tipo de mensagem é clara, direta e, ao mesmo tempo, acolhedora. Não ameaça, não impõe culpa, nem pressiona logo de cara. Cria um espaço de resposta e estabelece um tom de respeito, o que é fundamental para evitar bloqueios e construir engajamento com seu cliente inadimplente.

Vale lembrar: o cliente não está te esperando. Por isso, o primeiro contato deve gerar confiança, não defesa. Se ele se sentir invadido, é bloqueio na certa. Se ele entender que existe uma proposta, uma abertura para conversar, a negociação começa.

O que a LGPD, o CDC e a Meta dizem sobre isso

Cobrança por WhatsApp é permitida no Brasil, mas isso não significa que vale tudo. É preciso respeitar três conjuntos de regras: a LGPD, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) e as políticas da Meta — que, como já abordamos, é a proprietária do WhatsApp.

Começando pela LGPD, que é a Lei Geral de Proteção de Dados: diferentemente do que muitos acreditam, não é obrigatório obter consentimento (opt-in) para fazer cobranças. Isso porque a atividade de proteção ao crédito é considerada uma base legal legítima pela própria lei (art. 7º, X). Em outras palavras, é possível contatar o cliente mesmo sem autorização expressa, desde que a finalidade da comunicação seja claramente ligada à recuperação de crédito.

Porém, mesmo com respaldo legal, as boas práticas continuam sendo indispensáveis. Informar o cliente sobre o motivo do contato, respeitar seu direito de não querer continuar a conversa por aquele canal e agir com transparência são cuidados essenciais para evitar atritos, reclamações e bloqueios — e, claro, insucesso total na cobrança.

Já o CDC (Código de Defesa do Consumidor) proíbe qualquer prática de cobrança que envolva ameaça, constrangimento, exposição pública ou linguagem ofensiva. Isso inclui, por exemplo, enviar mensagens em horários inadequados, pressionar com frases humilhantes ou invadir a privacidade do cliente. Apesar de serem determinações mais genéricas e aplicáveis a quaisquer canais, a versatilidade do WhatsApp exige uma atenção maior a esses pontos. 

Por fim, as políticas do WhatsApp, definidas pela Meta, impõem limites técnicos e comportamentais a todas as ações desenvolvidas na plataforma. É exigido, por exemplo, que as mensagens sigam um padrão respeitoso e útil para o usuário. Nesses termos, cobranças feitas de forma fria, sem relacionamento prévio, ou com tom agressivo, podem ser denunciadas como spam — e isso pode levar ao bloqueio automático do número comercial.

Em resumo: realizar cobrança por WhatsApp é permitido, mas é preciso que seja feita com inteligência, empatia e total respeito às normas legais e aos limites da plataforma.

Os erros mais comuns que te fazem ser bloqueado

O bloqueio de conta no WhatsApp é um problema real, mais comum do que gostaríamos, e muitas vezes, evitável. A maioria das empresas que passam por isso têm algo em comum: usam o canal como se fosse uma esteira de disparos, e não uma via de conversa e de relacionamento com o cliente.

Um dos erros mais frequentes que encontramos é o envio de mensagens em massa para contatos que não conhecem a empresa. Isso costuma gerar denúncias por spam por parte dos usuários, especialmente quando a abordagem é fria, robotizada ou direta demais. 

Outro deslize comum é abusar da frequência de disparos. Mandar várias mensagens no mesmo dia, insistir em contatos fora do horário comercial ou repetir o conteúdo sem adaptação — e sem contexto — são atitudes que irritam o cliente e colocam a reputação do número em risco.

Também há quem exagere no tom: mensagens com ameaças disfarçadas, frases passivo-agressivas ou cobranças excessivamente técnicas criam um clima hostil. Além de possíveis processos por danos morais, esse tipo de abordagem tende a ser denunciado como inadequado.

Por fim, não respeitar os sinais do cliente é um erro grave. Se a qualquer momento ele diz que prefere não ser contatado por ali ou pede mais tempo, a empresa precisa ouvir e acolher sua decisão. Ignorar esses sinais reforça a imagem de pressão — e quebra a chance de uma negociação futura. 

Evitar bloqueios começa por entender que o WhatsApp é um canal essencialmente de relacionamento. Quem trata como megafone, perde. Quem usa como ponte de diálogo, consegue converter.

Como estruturar sua régua de cobrança no WhatsApp

Antes de pensar em quando enviar cada mensagem, é preciso olhar para quem vai receber. Uma régua de cobrança eficaz começa com a segmentação da carteira de clientes. Por exemplo, cobrar alguém com histórico de bom pagador exige uma abordagem diferente daquela usada com um cliente reincidente.

O estágio da dívida também conta: uma fatura que venceu ontem não deve ser tratada com o mesmo tom de uma que está há 60 dias em aberto. Por isso, a régua deve ser adaptada conforme o perfil do cliente e o tempo de atraso (e até mesmo outros parâmetros, a depender da estratégia), criando fluxos personalizados.

Na prática, uma régua de cobrança por WhatsApp se organiza em blocos:

  • Pré-vencimento: lembretes leves e amistosos, avisando da proximidade do vencimento e fornecendo caminhos que facilitam o o pagamento. 
  • Pós-vencimento (dívidas em aberto): aqui entram diversas faixas de agingover 15, over 30, over 60, em que cada uma delas pede um tom diferente na abordagem. Dívidas mais recentes, por exemplo, pedem mensagens informativas, com proposta clara e acolhedora. Conforme o tempo passa, a abordagem pode ganhar mais objetividade e formalidade, mas nunca perder o tom respeitoso. 
  • Renegociação: quando há resistência ou inadimplência prolongada, entra a régua de negociação. É o momento de oferecer parcelamentos, descontos ou outras condições que demonstrem flexibilidade e interesse em resolver. 
  • Último aviso: se todas as tentativas anteriores falharem, essa é a etapa para comunicar, com clareza e sem ameaças, os próximos passos. Pode incluir aviso de negativação, protesto ou encerramento da negociação.

Um ponto muitas vezes ignorado é o follow-up após o “sim”. Se o cliente diz que vai pagar, mas não confirma, a empresa precisa retomar o contato com bastante tato e “jeito”. Esse acompanhamento precisa ser feito com empatia e clareza, mostrando interesse em ajudar, e não em pressionar.

Por fim, algo que sempre repetimos por aqui e que vale guardar para a vida: a régua não é só uma sequência de mensagens. É uma jornada de comunicação pensada para conduzir o cliente da inércia até a ação — com respeito, personalização e inteligência.

Exemplos de mensagens eficazes

A eficácia da cobrança por WhatsApp passa diretamente pela escolha das palavras. A linguagem deve variar conforme o perfil do cliente, o estágio da dívida e o histórico de relacionamento. Aqui estão exemplos práticos de mensagens para diferentes situações — todas com foco em clareza, empatia e profissionalismo.

Mensagem de abertura (template inicial, tom neutro):

Olá, [Nome]. Aqui é da [Empresa X]. Verificamos uma pendência no valor de R$ [Valor], com vencimento em [Data]. Podemos te enviar as opções de pagamento?

Mensagem de abertura (template inicial, tom mais empático):

Oi, [Nome], tudo bem? Aqui é da equipe da [Empresa X]. Viemos te lembrar de uma pendência em aberto. Posso te mostrar as formas de pagamento disponíveis?

Mensagem conversacional após resposta positiva:

Que bom que respondeu, [Nome]! Podemos te enviar o link para pagamento à vista ou você gostaria de opções de parcelamento?

Mensagem de negociação (oferta de plano):

Pensando em facilitar, temos uma proposta com até 4 parcelas sem juros. Você prefere receber o link para o valor integral ou deseja simular as opções de parcelamento?

Mensagem para devedor com mais de 30 dias (tom mais objetivo):

Prezado(a) [Nome], a fatura referente ao serviço [X] segue em aberto há mais de 30 dias. Estamos à disposição para negociar condições especiais e evitar ações mais rigorosas. Podemos conversar?

Follow-up após promessa de pagamento (educado e direto):

Olá, [Nome], tudo certo? Só passando para confirmar se conseguiu concluir o pagamento que combinamos para hoje. Qualquer coisa, sigo à disposição!

Follow-up pós-renegociação não concluída:

Oi, [Nome]. Você chegou a ver as opções de pagamento que enviamos? Posso reencaminhar o link ou ajustar as condições, se for o caso.

Último aviso (respeitoso e sem ameaça):

[Nome], esta é nossa última tentativa de contato sobre a fatura de R$ [Valor], vencida em [Data]. Caso não haja retorno, seguiremos com as próximas etapas do processo. Estamos à disposição para ajudar até lá.

Esses modelos contém os elementos essenciais de comunicação em cada um dos casos e servem como base para você montar os textos mais adequados para a sua operação. Dessa maneira, o ideal é que cada empresa adapte o tom à sua cultura, ao perfil do público e à natureza da relação comercial. 

O importante é sempre manter o equilíbrio entre profissionalismo e proximidade, com mensagens que gerem resposta, e não resistência.

Como não ser bloqueado (ou processado)

Usar o WhatsApp como canal de cobrança exige muito mais do que bom senso. Existem riscos reais — e evitáveis — tanto do ponto de vista técnico quanto no espectro jurídico. Para escalar com segurança, é preciso seguir as regras de maneira cega e monitorar a operação de perto.

Do lado técnico, o maior risco é o bloqueio do número comercial. Isso costuma acontecer quando muitos clientes denunciam a empresa como spam, o que pode ser provocado por mensagens genéricas, insistentes ou fora de contexto. A Meta monitora esse tipo de interação e pode suspender ou banir contas em casos de abuso.

Para evitar esse cenário, algumas boas práticas são essenciais:

  • Use sempre templates aprovados para iniciar a conversa.
  • Adapte a linguagem à etapa da régua e perfil do cliente.
  • Monitore os indicadores de bloqueio e rejeição (algumas plataformas trazem essas informações de maneira completa).
  • Faça testes A/B com mensagens diferentes para avaliar a resposta do público

Já do ponto de vista legal, o risco maior (e mais grave) é responder por processos de danos morais, assédio ou constrangimento. Conforme já trouxemos, mas que é sempre bom destacar, o Código de Defesa do Consumidor (art. 42) e a LGPD não proíbem a cobrança — mas exigem que ela seja feita com respeito, clareza e dentro dos limites da finalidade legítima.

Existem casos de empresas que já foram condenadas por usar linguagem agressiva, cobrar em horários inapropriados ou expor o devedor de maneira indevida. Diante desse contexto, manter registros das interações, seguir boas práticas e treinar a equipe são formas de reduzir o risco jurídico e proteger a reputação da marca.

Cobrar com firmeza é necessário — mas cobrar com inteligência e empatia é o que garante resultado e sustentabilidade.

Cobrar bem é cobrar com inteligência

O WhatsApp é um canal poderoso para recuperação de crédito, disso não resta nenhum tipo de dúvida. Mas o que separa uma operação de sucesso de uma que só se depara com bloqueios, processos e clientes insatisfeitos (e, ainda assim, inadimplentes) é a estratégia.

Quem entende que cobrança é relacionamento — e não só cobrar dívidas — sai na frente. Com a régua certa, o tom correto e o uso responsável da tecnologia, é possível transformar cada conversa em uma ótima oportunidade, não apenas de recuperação de valores, mas principalmente da confiança do clieente.

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Eduardo Tambellini
Eduardo Tambellini
Artigos: 36